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Muito se fala sobre a semelhança entre o haicai – poesia multissecular de origem nipônica – e a fotografia – arte surgida no início do século XIX. Isto porque o menor poema do mundo também tangencia com dedos transparentes a realidade e capta, com seu caráter visual, um instantâneo, um flash zen do aqui e do agora.
Um enquadramento perfeito: eis o toque do fotógrafo na seleção do que os olhos capturam e a consequente mutação do visível em sensível manifestação da subjetividade. Uma seleção de vocábulos ricos de carga informativa na moldura de 17 sílabas poéticas: eis o haicai, em sua apreensão do essencial, que salta aos olhos do poeta à luz da realidade de um momento.
Com frequência, antes de existir a fotografia, no Japão unia-se esse tipo de poesia à pintura desde tempos remotos. Ainda hoje, pratica-se a arte do haiga, conjunto de haicai, pintura e caligrafia, que, conforme definiu Paulo Leminski, “ (...) é uma unidade intersemiótica, de natureza verbi-voco-visual (palavra – som – imagem, num só gesto)”. E após a invenção de Daguerre, haicaístas de vários cantos, na época atual, >>
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