Tenho prazer de observar frutas, legumes, verduras, grãos, em feiras livres, mercados, pequenas bancas de rua, na fruteira de casa... A multiplicidade de cores, nuances; os cheiros que remetem à infância ou aos corpos maduros; as pilhas de elementos da mesma espécie, ordenados, como se possível fosse um mundo organizado; a língua pressentido doces, ácidos, amargos, sabores de tons diversos; texturas de veludo ou asperezas; volumes, umidade, frescor, brilho, luz e sombra; uns tantos princípios de madureza já passando dos limites, anunciando desenlaces; e sementes, prenhes de potencialidades, prenunciando mais vida nova. Em cada unidade, a Unidade; em cada parte, o Todo. O Universo, no detalhe. Passear o olhar, exercitar olhar, ver com sentido, ver consentido, capturar as imagens em fotos, pintando naturezas-vivas... Transformar, depois, a memória da sensação em poema-grão – haicai. A língua das palavras recriando o momento fotografado.

Conhecedora da sensibilidade do escritor Carlos Rosa Moreira, de seu contato visceral com a natureza, pedi-lhe um texto que pudesse interagir com os meus haicais e fotos de frutas e grãos. Ele escreveu uma bela crônica, ofertando outros perfumes, sabores, e cores, texturas, e infâncias, lembranças, e alegrias simples, e palavras suculentas...

Neste fim de ano, semente de 2012, divido com vocês um tanto das sensações e dos sentimentos que a natureza generosamente me ofereceu em horinhas de despreocupação. Instantes de apenas olhos abertos para o sabor da vida –  para saber a vida – transformados em 18 fotos e haicais. Clicando-se em cada pequena imagem de fruta ou grão, logo abaixo, chegue a vocês o sumo de cada um desses momentos vividos. E com eles, meu desejo de um ano-novo de gostosuras singelas para todos.

Lena Jesus Ponte... | ...Dezembro de 2011