Seja no Antigo Testamento (“E acabou Deus no dia sétimo a obra que tinha feito: e descansou no dia sétimo”), seja na história em quadrinhos contemporânea (“Odeio a segunda-feira!” – mote do gato Garfield), trabalho e lazer, atividade e descanso, produtividade e prazer são encarados como conceitos autônomos, antagônicos, inconciliáveis.
Não condicionada pelos fatores culturais, a criança, porém, ainda integra aprendizado e brincadeira. Corpo e mente, o eu e o outro, fantasia e realidade, palavra e ação constituem saudáveis aspectos de uma mesma totalidade equilibrada. Mais tarde, a escola, com sua disciplina e horário rígidos, deveres desmotivadores, conteúdos programáticos distantes da realidade, com uma educação que massifica e castra, desintegra esse harmonioso serzinho.
Em sua maioria, os adultos, premidos pela necessidade de garantir sua sobrevivência, trabalham em atividades alienadoras, num sistema de competição acirrada e relações interpessoais tensas. Tornam-se peças de uma engrenagem enferma. Submissão e poder acabam por destruir qualquer resquício de prazer, de criatividade, de individualidade no trabalho. O sonho de grande parte dos trabalhadores resume-se à espera dos fins de semana, dos feriados e das férias.
Em sua essência lúdicos, criativos, questionadores, críticos, atuantes, os seres humanos buscam, entretanto, reverter essa situação. Têm surgido, atualmente, oficinas da palavra, das artes, do corpo… que visam a desenvolver, de forma lúdica, as capacidades de expressão e comunicação, promover o autoconhecimento e a afetividade, desautomatizar a percepção, liberar a criatividade.
Tornando a unir trabalho e lazer, cultivando o riso e o toque, equilibrando razão e emoção, nessas oficinas a pessoa reencontra a criança que, apesar de todas as adversidades, resiste dentro de si.