Que cidade ofereceria ao turista um coração medieval e sangue moderno? Daria de beber ao forasteiro o vinho fino da cultura clássica, curtido em museus, palácios, monumentos, e a aguardente da cultura popular embriagando noite e dia as ruas? Onde um cristão encontraria paz numa catedral gótica e, mais adiante, explodiria emoções em desalinho no gigantesco templo inacabado de Gaudí, castelo de areia a desafiar padrões estéticos?
Impossível fazer turismo burocrático em Barcelona. O século XXI passeia por Las Ramblas, reverencia saltimbancos pós-modernos. Todos os credos, as raças, os costumes e as idades fazem a sesta na Plaza Catalunya. Diferentes opções sexuais se beijam ao ar livres. Diversos gêneros musicais se harmonizam, na esperança de não esperar um esperanto para que os homens entendam a linguagem dos homens.
Lá, preservam-se as tradições. Lá, contestam-se, superam-se, recriam-se as tradições. A cidade acolheu o traço revolucionário de Picasso, gerou a pintura poética de Miró, enfeitou-se da exuberância multicolorida e delirante de Gaudí. Os braços da revolução estética estenderam-se até a próxima Figueras, onde Dalí afinou bigode e polêmicas, libertou das últimas amarras o inconsciente.
Art Nouveau e gótico, colunas neoclássicas e mosaicos em cerâmica policromada, afrescos românicos e avenidas ultramodernas, La Cuineta e Mc Donald´s, numa cidade multifacetada. A observá-la, plácido, o Mar Mediterrâneo, acima dos estilos e do tempo.