Gargantua e Pantagruel
Vou te agarrar com unhas e dentes.
Não tentes fugir, rugir, reagir.
Sou fera bravia, faminta, acossada,
coleante serpente, cadela no cio,
sou fêmea prenhe.
Vou abarcar o mundo com as pernas.
Já não basta um amor apenas.
Nas coxas quentes, as bocas ferventes
da humanidade morderão a intimidade
do meu cerne carne.
Vou mandar tudo pro inferno:
o pai, a mãe, o filho, o espírito santo,
o corpo, a alma, a calma, o grito, o canto,
os mitos que encheram vazios, o deus, o demo,
o medo do não conhecido.
Vou pegar o bonde andando,
pagar passagem pro não-sei-aonde,
pernoitar ruas estranhas, penetrar outras entranhas,
naus velejando em qualquer direção,
passar pelo Cabo Não.
Vou tirar a barriga da fome.
Comer terras, beber rios, sugar mares, mamar chuvas,
chupar uvas de todas as parreiras, rebentar barreiras,
ser mulher qualquer pra qualquer homem.
Esquecer meu nome.