Tenho prazer de observar frutas, legumes, verduras, grãos, em feiras livres, mercados, pequenas bancas de rua, na fruteira de casa… A multiplicidade de cores, nuances; os cheiros que remetem à infância ou aos corpos maduros; as pilhas de elementos da mesma espécie, ordenados, como se possível fosse um mundo organizado; a língua pressentido doces, ácidos, amargos, sabores de tons diversos; texturas de veludo ou asperezas; volumes, umidade, frescor, brilho, luz e sombra; uns tantos princípios de madureza já passando dos limites, anunciando desenlaces; e sementes, prenhes de potencialidades, prenunciando mais vida nova. Em cada unidade, a Unidade; em cada parte, o Todo. O Universo, no detalhe. Passear o olhar, exercitar olhar, ver com sentido, ver consentido, capturar as imagens em fotos, pintando naturezas-vivas… Transformar, depois, a memória da sensação em poema-grão – haicai. A língua das palavras recriando o momento fotografado.
Divido com vocês um tanto das sensações e dos sentimentos que a natureza generosamente me ofereceu em horinhas de despreocupação. Instantes de apenas olhos abertos para o sabor da vida – para saber a vida – transformados em 18 fotos e haicais.
(Lena Jesus Ponte)