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No dia 16 de maio de 2016, comemorou-se o centenário de nascimento do professor e escritor Luiz Simões Jesus. Filho de lavradores, nascido numa roça em terra capixaba, transcendeu suas origens e desde cedo perseguiu o conhecimento. Decidido a estudar, formou-se em Direito, namorou idiomas e teve a língua portuguesa como companheira de toda a vida: escreveu livros didáticos e lecionou para várias gerações de estudantes, primeiro na cidade de Vitória (ES) e depois na do Rio de Janeiro (RJ).
Na relação com o português, foi além do magistério e mergulhou na literatura. Escreveu Ritmos e Sombras, Eu e o Rochedo, Por um Fio de Sol e Meu Oásis Querido, obras marcadas por seu temperamento reflexivo, criadas a partir dos questionamentos e perplexidades que sua trajetória lhe proporcionou.
A dureza da caminhada não lhe roubou a doçura e a sabedoria que o distinguiam; antes as aguçou. Criou filhas e afagou netos. Além de afeto, transmitia-lhes ensinamentos os mais diversos. Mostrava na prática como pescar, pegar siris e mexilhões, fazer versos e trocadilhos, inventar charadas... Brincava com as palavras. Flertava com a língua espanhola. Como autodidata, estudava tupi-guarani. Ensinava a aprender – a mim, seu neto, quando ainda adolescente me contratou como professor particular de inglês. Ensinava bom humor.
Professava o respeito à natureza décadas antes de se difundir a ecologia como ciência e valor. Era observador dos ciclos naturais. Tinha existência, cosmo, tempo e espaço como centro de seus pensamentos e temas fundamentais de sua literatura. Com isso, paradoxalmente, ao transcender suas origens, delas se aproximou. Carregou o orgulho em relação a seus pais e a Guarapari (ES), sua terra natal, homenageada em Ritmos e Sombras (“...com as tuas casas de palha quase beijando o chão, com velhinhas rendeiras à porta”).
No centenário do seu nascimento, esposa, filhas, netos, bisnetos, ex-alunos e admiradores poderão ter acesso à atemporalidade de sua obra literária completa, esgotada, porém agora digitalizada e disponível na internet para leitura. Aos que não conviveram com Luiz Simões Jesus, é a oportunidade de serem apresentados a reflexões de interesse de qualquer mortal. Aos que privaram de sua intimidade, o material também permite matar um pouco da saudade do marido, pai, avô e mestre, bebendo um tanto mais de sua fonte.
Daniel Ferreira da Ponte
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