Ávida palavra

Largo da Carioca

O relógio enfeita de bronze as horas.
Sino barítono entoa um canto,
convida pombos à dança.
Revoada de estudantes em bandos uniformes.

Pessoas passam seus problemas efêmeros.
Pastas executivas carregam faturas e desejos.
A fome mendiga. Uma boca magra engole fogo.
Palhaços urbanos encenam malabarismos
no picadeiro de pedras portuguesas.
Tudo se vende. O diabo apregoa almas e incensos.
Flautas bolivianas encantam serpentes.
Crentes berram promessas de lugar no céu.
Nas bancas estampam-se políticos sorrisos,
crises, crimes, sensualidades de papel.

Largo democraticamente carioca.
Sobrados de perder eternamente os olhos nos detalhes
e prédios com desejos de Manhattan.
Policiais, malandros, camelôs, lixeiros, bancários,
office-boys, músicos, homens-sombra, comerciários,
lojistas, pivetes, transformistas, pedintes, doutores, professores
malabaristas, jornaleiros, biscateiros, performáticos,
garçons, ladrões, peões de obra, gerentes, motoristas,
artistas de rua, mulheres de rua, meninos de rua…
Rua nua e crua. Largo coração da cidade.

Acima do movimento intenso, o Convento de Santo Antônio
contempla, sereno, o tempo que passa.

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