Minha mãe costurava à tarde.
As fadas mãos transformavam retalhos
em vestidos, num passe de mágica;
tracejavam caminhos de giz nos tecidos
por onde viajavam meus olhos meninos
e a tesoura seguia escrava.
Minha mãe conseguia tornar invisíveis
as costuras. Sabia misturar cores, combinar enfeites,
escolher rendas e fitas e sianinhas e sutaches,
casar com perfeição botões às casas,
arrematar bainhas, o último nozinho cortado na boca
como um beijo final no trabalho.
A máquina, por cima do pano, acrescentava pontos.
Por baixo, reforçava a linha.
Minha mãe costurava a tarde.
Com ela eu aprendia a tecer textos e vida.