Chegada a Santiago de Cuba. Como conhecer e entender uma cidade, sua cultura, seus habitantes em apenas três dias? Após visita obrigatória ao Quartel Moncada, optamos por deixar que o destino conduzisse nossos passos pelas ruas escaldantes. Buscávamos a informação viva não registrada nos guias de viagem.
Logo encontramos movimento à porta de um casarão colonial antigo. Gente entrando e saindo, conversa animada. As entranhas de Santiago se abriam aos estrangeiros curiosos. Fim de um recital de poesia e música. No pátio interno, pessoas ainda sentadas, folhetos de mão em mão, chá em nossos copos… Visitantes inesperados, fomos acolhidos sem rodeios.
À nossa frente, um homem de olhar inquietantemente tranquilo e modos singelos. Acabávamos de conhecer um poeta denso, uma dessas pessoas que viajam por todos os tempos e espaços a bordo de livros. Perguntas sobre Brasil e Cuba; passamos da poesia concreta ao haicai; da paixão dos cubanos pelas telenovelas brasileiras aos tailleres literários da cidade…
Encontro marcado para mais tarde. Na rua, sentados no meio-fio, trocamos livros. Presenteou-nos com revistas cubanas. Desejava saber do nosso movimento literário. E a literatura para niños? E a presença das mulheres na literatura? E os novos poetas? E os jornais culturais?
No dia seguinte, conhecemos sua companheira, jeito de baianinha sensual, cheia de vida. Por trás do aspecto brejeiro, a profundidade de uma poesia com imagens ricas. Trabalhava numa biblioteca centenária e introduzia crianças no universo sem fronteiras dos livros.
A dificuldade do idioma não foi barreira: conversamos sobre poesia, essa espécie de esperanto que aproxima povos. Buscando conhecer Santiago de Cuba, fomos levados pelas artimanhas do misterioso Artista ao encontro de pessoas verdadeiras na sua simplicidade, simples nas suas verdades – Reynaldo García Blanco e Mirna Figueredo Silva.
Em três dias, concluímos que uma cidade, assim como a arte, existe mais para ser sentida que entendida.