Períodos de exceção política à parte, nem a passagem do tempo nem as mudanças tecnológicas têm sido capazes de engarrafar o livre trânsito da produção e da divulgação da poesia ao longo de sua história.
Antes do registro em papel, ela era declamada ou cantada, daí a musicalidade característica do gênero lírico. Ainda hoje, manifesta-se, viva, nas letras de sensíveis compositores de música popular.
Já apareceu nos mais diferentes e inusitados suportes: pintada em vasos, leques, xícaras de chá e até grãos de arroz no Japão antigo; editada precariamente em folhetos e pendurada em cordéis nas feiras populares; estampada em camisetas e vendida em massa nos shoppings das cidades modernas; incorporada às telas de artistas plásticos; elaborada com novos recursos da informática e veiculada em vídeo, em DVD, na internet, até publicada em livros!…
Nas décadas de 1960/1970, saltando da página impressa para o universo tridimensional, o poema-processo, objeto manipulável, abriu as portas da poesia para a entrada participativa do leitor. O poeta oferecia propostas a serem atualizadas por um fruidor ativo. Poesia e artes plásticas romperam suas fronteiras, numa integração dinâmica, e criaram novas linguagens.
Com os avanços da informática, basta estar conectado à rede para acessar sites de escritores. O internauta pode, ainda, tornar-se coautor de uma poesia interativa, clicando seu mouse em certos símbolos na tela, que o levarão a estabelecer conexões alternativas entre as palavras e abrirão para ele várias possibilidades de leitura.
A sintaxe não linear dos hipertextos da linguagem informatizada vinha aparecendo em outros tipos de textos. São exemplos as letras das músicas Haiti (Gilberto Gil/Caetano Veloso) e Nato (Chico César/Tata Fernandes). Nelas, informações aparentemente caóticas e ilógicas funcionam como links e fustigam o leitor no sentido de buscar esclarecimentos que enriqueçam a compreensão.
Antes lira e papiro; hoje internet. E prossegue a poesia em seu destino, por mares nunca dantes navegados.