O corpo da poesia

Rio-Niterói

A barca geme que nem boi na canga.
Carro de boi na água suja.
Pastos de águas poluídas,
miasmas, oleosidade, maresia…
Quatro séculos de lixo no fundo da baía.

– Cinco amendoim é dois real!
– Bala de menta e eucalipto!
– Cigarro barato!

A barca sabe melhor democracia
que político.
Abarca, sem discurso,
todos os tipos da periferia,
estudantes com seus sonhos
de mudar o mundo
e um mundo de gente tão sem sonhos!

O cego prossegue em sua cantilena.
Na proa a jogatina alegre da porrinha.
Dorme a criança no colo da empregada
que cochila no ombro do operário.
O verso escreve a cisma, a sina do homem pobre.
É possível fazer da miséria poesia?

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