Alto-contraste
O amor no escuro é outra coisa.
Descontornos de amante misturam
pelo e veludo, velado e desnudo,
desfile de revistas pornográficas,
filmes eróticos, sons enigmáticos,
doces sacanagens, imagens exóticas…
A Índia está no sofá
onde o ser é indefeso;
a coragem, o limite do medo;
o senso se perde no incenso da pele.
O amor no claro é outra coisa.
A paixão roída na rotina
de mãe e manha das crianças;
os defeitos berrando na retina
cansada do quotidiano;
o corpo a corpo com a empregada,
o patrão, o arroz com feijão,
o sarampo e o orçamento…
O dia bate ponto e acaba exausto
jogando-se na cama entre mãos dadas.
O escuro termina no claro que cura a loucura.
O claro declara ser do escuro a fantasia.
Se acorda no sonho.
Se dorme no dia.